Tiago Monteiro em entrevista, faz balanço de 2011

Tiago Monteiro teve em 2011 uma das suas melhores épocas no Campeonato do Mundo de Carros de Turismo (WTCC) mesmo contra todas as adversidades. O piloto português faz uma retrospectiva do ano em entrevista.
O que é que esperava da época de 2011 sabendo que se estava num processo de mudança?
Sabíamos que o contexto seria diferente, com muitas incertezas, mas ainda assim com esperança de conseguir bons resultados apesar de a meio da época termos um novo motor. Estávamos 100% motivados pois o nosso objectivo era atacar o máximo como sempre.
A transição de equipa oficial para a Sun-Red decorreu facilmente? 
Sim, claro. Isto porque se mantiveram as mesmas pessoas. A maior parte dos engenheiros e mecânicos acompanharam os pilotos. Mas tivemos que nos adaptar pois passámos a ter menos pessoas para analisar a informações no terreno. Menos pessoas, significa mais trabalho. Cada um de nós passou a trabalhar a mais.
Alterou a sua forma de agir tendo em conta que chegar à vitória passou a ser uma tarefa muito complicada? 
Não propriamente pois sabíamos que podíamos chegar ao pódio, a quarto ou quinto lugares. Era esse o nosso objectivo. Para atingir qualquer objectivo tem que se atacar. A nossa postura técnica não se alterou mas tivemos que percorrer um caminho duro para atingirmos os nossos objectivos. Corremos riscos e fizemos tudo o que estava ao nosso alcance.
Qual a sua opinião sobre o sistema de qualificação ao longo do ano, que invertia os 10 melhores para a grelha de partida da segunda corrida?
Foi um sistema muito criticado desde início, mas ao mesmo tempo temos de reconhecer que não havia uma solução miraculosa na configuração do campeonato em 2011. Apesar de desportivamente o sistema não ter lógica, a realidade é que se assim não fosse, teríamos tido sistematicamente os três Chevrolet na frente. Em determinadas alturas beneficiámos deste sistema outras vezes acabámos por ficar fora do top 10. Estávamos sempre a brincar com o fogo. Foi exactamente o que me aconteceu em Macau mas também estive várias vezes na frente ao saber jogar este jogo.
A meio da temporada estava na quarta posição do Campeonato com 101 pontos e na segunda metade apenas amealhou 16 pontos. O que aconteceu?
Foi o meu melhor início de época desde que entrei no WTCC. Mas infelizmente, depois da corrida do Porto os azares começaram a aparecer. Problemas técnicos e mecânicos arruinaram alguns fins-de-semana de corridas. Para além disso tive um acidente no Japão e um furo na China. No entanto em termos de performance fui melhorando significativamente se compararmos com o Tarquini que era o Campeão do Mundo. No final fui o piloto mais rápido da SEAT Sun-Red. Mas por vezes estamos no lugar errado à hora errada e eu acabei por perder demasiados pontos na segunda metade da temporada.
Olhando para trás, acha que foi o novo motor a causa de tudo isto?
Em parte sim, mas não tínhamos escolha, uma vez que fazia parte das regulamentações. Foi um motor que entrou em pista depois de apenas o testarmos durante 2 dias e como tal não podíamos esperar milagres. À parte disso, o trabalho feito pela Sun-Red foi notável. Apesar de não estar ao nível dos Chevrolet ou BMW, tinha um grande potencial.
No geral, foi o melhor piloto SEAT em termos de performance. Satisfação ou frustração por não ter tido oportunidade de lutar com os Chevrolet?
Satisfação, claro. Não me posso queixar. Ainda podemos fazer melhor mas eu dei o meu melhor e estava bem colocado em termos de performance. Cada ano que passa é melhor que o anterior.O Muller e o Huff estão há muitos anos neste Campeonato e continuam a melhorar. É um Campeonato onde a experiência conta e para se ser campeão tudo tem que estar em sintonia.
Em Macau, era o piloto mais rápido logo após os Chevrolets nos treinos livres... 
Essa foi a minha maior frustração, pois também estava muito mais rápido que os meus companheiros de equipa. Mas na qualificação estava em 9º ou 10º e acabei por ficar fora dos 10 melhores devido a uma bandeira amarela. Toda a nossa estratégia foi para o espaço. Podemos lamentar o que aconteceu depois mas devemos saber medir os riscos na altura. Não estava longe da 'pole' e acredito que poderíamos ter discutido a vitória. 
Como é que gere a sua actividade com a Ocean na GP2 Series sem que interfira com o seu percurso no WTCC?
Tenho que ser muito disciplinado. A GP2 não interfere na minha actividade como piloto no WTCC mas sim na minha vida familiar. Em vez de rumar a casa para estar com a minha familia após um fim-de-semana de corridas, volto à estrada para acompanhar a Ocean na GP2. A experiência num campeonato ajuda-me no outro e vice-versa. 
Em 2011, participou ainda nas 24h de Le Mans no protótipo com 3.4 litros e um motor V8... 
As condições apresentadas eram novas mas isso é exactamente o que eu gosto. Sempre gostei de novos desafios. Em 2010 participei no V8 Supercars na Austrália mas em 2011 havia um conflito de datas com o WTCC. O protótipo das 24h de Le Mans era muito rápido e remeteu-me para os monolugares. Adorei a sensação pois é um ritmo distinto. Foi muito importante em termos de actividade profissional. No WTCC os carros são fenomenais, não há tempo para nada ao volante. As travagens são muito fortes e o carro é extremamente agressivo nas curvas. Tem que se estar sempre muito atento. 
O que é que 2012 reserva para o Tiago Monteiro?

Há vários projectos no horizonte, mas nada em concreto até ao momento. Assim que tudo estiver definido será obviamente divulgado. A todos um excelente 2012.

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